14 fevereiro, 2008

A última estante III

Júlia ficou muito surpresa, pois nunca havia aprendido alemão, mas compreendia perfeitamente o discurso. Hitler gesticulava, chorava, sorria, gritava e sussurrava. A platéia era conduzida à loucura, com os acessos de fúria e palmas, além da música clássica de Richard Wagner (um compositor alemão, que escrevia óperas e concertos, exaltando o passado glorioso alemão), a iluminação, as bandeiras, as marchas e exposições de armas, com tiros festivos. Era incrível a disciplina do povo, perfilado e silencioso, nem mesmo as crianças choravam. Com a passagem dos líderes nazistas para o púlpito, dos mais velhos aos mais jovens, todos faziam reverentemente a saudação "Heil Hitler", com o braço direito esticado.

Após aquela festa toda, que mais parecia uma cerimônia religiosa, Júlia teve a oportunidade de conversar com um senhor que estava sentado ao seu lado e era tão fanático quanto todos os outros, seu nome era Joseph Cotton, um ex-soldado combatente das trincheiras da I Guerra. Ele lhe disse que o “Führer” (como Adolf Hitler era chamado por seus seguidores) tinha sido a melhor coisa que havia acontecido à Alemanha e sua determinação e coragem, reergueram o país. Segundo o sr. Cotton, o país estava arrasado pela guerra e famílias inteiras faziam filas nas portas dos albergues para receber comida e abrigo, ele mesmo tivera a desventura de ver seus filhos mendigarem o pão, pois as nações da tríplice Entente, humilharam a Alemanha com as cláusulas do Tratado de Versalhes, que proibia seu povo de sequer produzir armas para se defender e deveriam pagar indenização às ditas “nações vencedoras”. Júlia perguntou de onde viera o Líder deles e prontamente o sr. Joseph respondeu que ele havia nascido na Áustria e que sua infância havia sido muito difícil, com grandes limitações financeiras, visto que seu pai não possuía um bom emprego, mas se esforçava bastante para proporcionar-lhe uma boa formação educacional. Ela ficou sabendo que Hitler havia sido artista na juventude e que foi ferido, quando trabalhava como mensageiro na I guerra. A conversa estava muito boa, quando o sr. Cotton começou a desconfiar de que Júlia fosse uma espiã inglesa e agir de maneira violenta, iniciando um interrogatório, já exaltando a voz e deixando a moça muito assustada. Naquele momento, a garota sente uma mão a segurar seu braço e conduzí-la adiante, aproveitando o fluxo da multidão, enquanto o velho ficou no seu lugar esbravejando, praguejando e esmurrando o ar. Júlia nem se atreveu a volver os olhos, já que pensava ter sido presa, porém uma voz conhecida a fez estremecer......


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